3 segundos

Reparaste meu olhar distante e meu sorriso cansado. Mas não quis transpassar uma barreira que ainda não havia sido superada. Reparaste e desviaste antes que no relógio corresse mais que 3 segundos. Mas eu queria que você esperasse, me esperasse, pra ver se nos teus olhos eu encontrava algum repouso pra minha agonia, um dique para represar as fantasias que não têm me deixado dormir. Reparaste mas logo não quis. Não quis porque talvez fosse profundo demais, e no meu medo se afogaria. Viu que era feroz, e num instinto de sobrevivência afastou-se do que não conhecia. Pois minha vontade era que ficasses e fincasse seu amor em mim.

Caco L

Inevitável

É inevitável não pensar em você, e fazia tempo que isso não me acontecia. E em pensar que eu nem te olhei nos olhos direito, e que o tempo passou tão ligeiro. Desde aquele dia, em que eu te conheci, você tem estado aqui, na loucura da minha cabeça, no emaranhado de pensamentos que às vezes até nem me deixa dormir. Se eu pudesse voltar eu te olharia nos olhos, pra ver se ali havia algum tipo de amor. Esse amor que eu espero e que meu desejo me faz pensar que está perto. Talvez esteja mesmo. Talvez fosse você. E é inevitável não brincar com a imaginação, e fantasiar situações, onde a gente estaria juntos, e na intimidade da cama eu te deixaria me conhecer, falaríamos como falamos naquele dia, e o tempo passaria suavemente, se recuperando dos tempos sombrios onde eu estive sem você. Se eu pudesse te encontrar de novo, se o destino quisesse mesmo, vernos como um casal, eu te olharia nos olhos sem medo, e sem medo te deixaria entrar.

Caco L

Pedra

Ele tinha o espírito livre, e alma transparente. Ele sorria com e das coisas mais bobas. Ele sabia sem saber que sabia ser feliz. Mas daí veio o tempo feio que o destroçou em pedaços, e seu coração que antes pulava hoje contrai-se num movimento esquisito. Seu olhar em que antes havia brilho hoje abriga uma mirada distante, que nunca consegui alcançar. Ele anda tão longe que me pergunto se ainda sabe o caminho de volta. Me pergunto se ainda volta, se ainda tem nas mãos a força pra levantar a pedra que agora é o seu coração.

Caco L




Deixo ela passar

Preciso cuidar mais de mim. E há tempos me prometo isso. Mas vou deixando passar, como se minha vida fosse uma pessoa estranha e eu na janela observando ela passar. E reparo todos os seus passos, e acompanho com olhar curioso, e simplesmente deixo ela passar. Notei que sorriu pra mim, talvez a fim de uma aproximação, mas como sempre, rapidamente, fingi que não era comigo. E vou deixando passar, mas sempre ela volta pra me lembrar que precisa de mim pra continuar.

Caco L

Não tenho paciência mais nem para narizes-de-cera.

Caco L

Permaneço

O corpo diz que não pode mais, que não quer mais. A cabeça ainda respira, tentando fazer-se dona do corpo, tentando mostrar sua soberania, seu poder. Mas o corpo insiste em ficar sempre deitado, como a requerer um descanso que precisa ser lhe dado. Mas eu resisto. Eu não quero, não posso e preciso lutar. Eu é que não posso negar o direito que me foi dado de lutar, de resistir, de renascer. Pareço sem vida, e às vezes acho mesmo que estou (sem). Mas a força dessa esperança que veio comigo de berço não me deixa entregar os pontos. E permaneço firme, ainda que muitas vezes caio. Mas permaneço forte, ainda que o braço estremeça. Permaneço vivo, ainda que o corpo não queira.

Caco L